Começo da provocação: Apagão de ‘talentos’. Proponho uma discussão. Podemos ter um apagão de ‘instrução’, ‘formação’, mas não temos apagão de capacidade potencial. Como superar esta lacuna? Marcos Luiz do Linkedin colocou!
O colega Marcos Luiz colocou o tema acima. Outros colegas argumentaram e propuseram soluções interessantes a partir de uma visão mais econômica e, portanto do senso básico de administrar recursos escassos como propõe a economia clássica. Sim de fato a disponibilidade de mão de obra em um momento de quase pleno emprego como o atual no Brasil fala exatamente de recursos escassos: gente para trabalhar!
Mas Oxalá fosse tão simples assim. Nós economistas não resistimos a reduzir variáveis com o famoso “ceteris paribus”!
Houve recentemente um evento sobre o tema e dele me impressionou a percepção de áreas de governos como a Secretaria de desenvolvimento econômico e trabalho do Município de São Paulo quando seu representante disse: “Não vivemos um apagão de mão de obra ou talentos somente, mas vivemos um apagão de educação e de gente com vontade de trabalhar “!!! Isto em parte sustentado pela experiência de que nos programas de inserção de pessoas no mercado de trabalho com verbas federais e pagando até quase R$600,00 por mês para as pessoas estudarem um pouco para poderem ser selecionadas em empregos básicos, a evasão já é de mais de 30% no primeiro mês.
Bem isso é MOD de base!?
Pois bem. Vejamos o que disse o Prof. Dr. Cardoso, Diretor a Poli USP: nas diversas escolas de engenharia do Brasil temos algo como 34 mil vagas por ano. Nos vestibulares preenchemos somente 27 mil, mas agora vem o melhor, por ano só se formam 7 mil engenheiros para uma demanda de 13 mil pelo menos.
De outro lado ficou patente que para selecionar e atender demanda as empresas estão construindo modelos de seleção e treinamento cada vez mais sofisticados e mais caros obviamente. O custo Brasil dentro de 1 a 2 anos não será somente infra-estrutura precária, portos ineficientes, impostos e encargos acima da média mundial, mas terá também certamente uma inflação crescente nos salários das funções mais disputadas, e um custo de 3 a 4 % do custo total para compensar a qualidade de qualificação e capacitação decrescentes para os que queiram manter produtividade e competitividade adequadas em mercado global. Se você é empresário pense nisso e antecipe soluções paliativas.
Os EEUU não estão muito diferentes disso. Os asiáticos serão uma fonte real de sustentação dado que já escolheram a educação como solução há mais de 20 anos. Nós se de fato escolhermos isso agora, dentro de 20 anos podemos reverter o cenário. O cenário infeliz e mais provável é de uma redução na velocidade do crescimento e como conseqüência uma redução na pressão do apagão; e não será por falta de investimentos em infra-estrutura como alguns especialistas já falaram tão insistentemente. Será porque negligenciamos a educação fundamental e secundária há mais de 40 anos por medo de ter nosso povo capaz de entender e questionar os destinos da nação e fazer melhores escolhas nas eleições.
Será também porque negligenciamos por muito tempo a formação técnica média privilegiando um pseudo 3º grau decadente. Hoje um MBA não é mais do que uma compensação de um curso de administração decadente se comparado ao que se tinha como currículo básico nos anos 70 ou 80. É também um novo business inegavelmente com milhares de estudantes buscando uma complementação que se oferece aos módicos R$ 20 ou 30 mil por ano e que as empresas desesperadas colocam como pré requisito dada o baixo qualidade da média dos recém formados na graduação.
O sistema S é bom e subsiste porque é compulsório por lei e sustentado como custo ou imposto pela indústria e comércio, mas é pouco!
O cenário de o Brasil continuar a crescer 4 ou 5 % ao ano daqui pra frente vai esbarrar e falta de infra-estrutura, falta de gente , falta de competitividade de custos para mercado global, falta de governo correto e honesto , falta de legislação moderna , falta de uma CLT mais flexível, falta de um empresariado mais atuante e menos subserviente a custas de subsídios e favores tributários, e falta de uma cultura baseada em valores sólidos dos quais , pela amostra recente de nossos congresso, executivo e até alguns do judiciário , estamos muito longe de conseguir.
Desta forma , se você é jovem ( jovem hoje é alguém dos 20 aos 40 !!- e não estou dizendo que isso seja certo pois me considero jovem !) podemos dizer que, o apagão para todos aqueles que escolheram bem suas carreiras universitárias e se deram ao mínimo trabalho de estudar, é uma oportunidade impar para mais de 10 anos á frente , e de ter certeza de uma colocação/emprego e um progresso de carreira e de vida, sem dúvida. Para os que ainda não escolheram ou escolheram mal temos tempo de reverter o processo. Vá buscar uma boa orientação, tome suas decisões e mude de opção. O tempo é favorável para evitar frustrações de longo prazo.
Planeje sua vida, planeje sua carreira e seja feliz porque os ventos são favoráveis para os que forem perseverantes e persistentes, a começar na excelência enquanto acadêmico e depois na excelência como profissional. Haverá espaço para todos porque o Brasil contratou um apagão de Talentos que veio pra ficar! Só não esqueça: seu concorrente não é seu colega de classe ou de turma. Seu concorrente é o estrangeiro bem formado e louco para crescer e ganhar a vida trabalhando no país tropical, abençoado por Deus!
Boa Sorte á todos, mas não existe neste caso modelo de solução que não seja individualista (do ponto de vista de empresa que vai buscar talentos na casa dos outros) ou que não seja de longo prazo para a coletividade, para a sociedade como um todo, e, portanto, para o país como nação e como parte da economia global!
Cuide-se e olho vivo!
Caro Marcos Luiz, não temos apagão de potencial mas não temos quem possa, em escala, nacionalmente, reverter este quadro.